Vagões da antiga Fepasa vão turbinar projeto.



A Prefeitura de Rio Preto já tem o sinal verde do governo federal para incorporar ao menos três vagões de passageiros, encostados no município, e usá-los na implantação de um projeto que está sendo chamado de “Supertrem Caipira”. Trata-se da expansão do plano turístico que foi retomado no atual governo e é considerado um sucesso. Com mais de 1,9 mil pessoas cadastradas para participar do passeio, que sai de Rio Preto rumo ao distrito de Engenheiro Schmitt, o Executivo faz tratativas desde o ano passado com governo federal. A ampliação também foca melhorias na mobilidade urbana e prepara caminho para o uso diferenciado dos trilhos.

No final de julho, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) deu aval para que três vagões de passageiros, utilizados nas décadas de 1970 a 1980, encostados há anos no pátio ferroviário da Rumo, no bairro Parque Industrial, sejam transferidos ao município.

Os vagões precisam ser restaurados, e para isso o município vai buscar parcerias. O custo estimado é de R$ 1 milhão ou até mais para a restauração. A intenção é ampliar o uso da linha em até dois domingos por mês.

Os três vagões têm capacidade total estimada em 220 lugares. Quatro vezes mais do que o comportam os veículos utilizados atualmente no Trem Caipira, que usa os trilhos um domingo por mês. A Prefeitura improvisa para conseguir transportar número maior de pessoas (leia abaixo).

Para viabilizar o projeto, o prefeito Edinho Araújo (MDB) trata pessoalmente do assunto junto ao governo federal e diretores da Rumo. E diferentemente do primeiro projeto, inaugurado na sua primeira passagem pelo Executivo, no final de 2008, desta vez o município não vai gastar recursos próprios. “É um outro projeto. Queremos autorização para ampliar o uso da linha férrea. Buscamos parcerias. Nada de comprar. É doação e também amarrando com horário para ampliar uso da linha. Quero parcerias e convênios com entidades”, afirmou Edinho ao Diário.

Sacramentada a doação dos vagões para a Prefeitura, o projeto dependerá de outro passo. O município terá de conseguir uma locomotiva para levar os vagões. O trem atual será mantido. A ampliação é considerada projeto que pode levar até 4 anos para ser concluído. “Vai precisar de locomotiva. Também por parceria, pois não temos dinheiro para comprar locomotiva nem vagões”, afirmou Edinho. A intenção também visa à mobilidade urbana com a visão no horizonte de que o contorno ferroviário irá ser realizado.

Para conseguir uma locomotiva, a intenção é conseguir autorização de uso da Rumo. “A gente já fez uma consulta com a Rumo e eles alugam locomotiva se precisar”, afirma o secretário de Desenvolvimento Econômico e Negócios de Turismo de Rio Preto, Jorge Luis de Souza.


Restauração
Por ora, a prioridade são os vagões. As avarias foram detalhadas em relatório elaborado por técnicos do Dnit. Para a restauração, o secretário afirma que irá consultar a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), que fará análise de custo. “Vamos fazer essa avaliação e tentar captar recursos para a restauração”, disse Souza.

O diretor institucional da Rumo, Guilherme Penin, disse que a concessionária apoia o projeto, mas adota cautela ao tratar de ampliação do uso da linha férrea. “O Trem Caipira é um sucesso. Ajudamos com equipamentos de segurança, treinamento de maquinista. Agora, não é uma coisa simples colocar um trem de passageiro na linha. Um trem de carga precisa de mais de um quilômetro para parar e temos de cumprir metas de transporte de cargas. A agência reguladora precisa autorizar. Mas o Trem Caipira é um sucesso. Outros projetos virão”, afirmou o diretor.

Edinho reconhece as dificuldades. “É difícil para a gente parar esse trem de carga neste trecho por algumas horas. Quero que o projeto venha mediante uma autorização”, afirmou o prefeito. O aval tem de ser dado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A assessoria da agência afirma que pedido oficial da Prefeitura para ampliar o uso da malha ferroviária ainda não foi formalizado.

“O contorno ferroviário precisa acontecer para o trecho entre Mirassol, Rio Preto e Cedral. Ter um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que vai conectar o transporte ferroviário com ônibus e facilitar a mobilidade a vida dessa cidade que é uma metrópole”, disse Edinho.

Segurança é algo essencial na linha férrea. A história recente da malha ferroviária na cidade foi marcada pela tragédia do Jardim Conceição, em 25 de novembro de 2013. Vagões da então concessionária ALL descarrilaram e atingiram duas casas, o que provocou a morte de oito pessoas. Processo criminal sobre o caso tramita na Justiça de Rio Preto ainda sem desfecho.


Espera pode levar mais de um ano
Enquanto procura viabilizar a ampliação do Trem Caipira, o projeto atual segue em andamento com extensa fila de interessados em fazer o trajeto da estação ferroviária do Centro de Rio Preto até a estação do distrito de Engenheiro Schmitt. Uma viagem é realizada a cada mês. O trem já transportou duas mil pessoas, desde que o projeto foi retomado, em dezembro de 2017. Na época, colocar os trilhos na linha foi missão para o ex-secretário de Desenvolvimento Liszt Abdala. Desde então foram 20 viagens. A lista de pessoas que querem andar no trem tem 1,9 mil interessados. Sem ampliar uso da linha, será preciso um um e cinco meses. A Prefeitura quer ampliar já em 2020 em mais cinco datas.

Para conseguir reduzir um pouco a demanda, a Prefeitura utiliza um carro no passeio. Segundo a Prefeitura, 50 passageiros vão de trem para o distrito e 50 vão de ônibus. Na volta é o inverso: quem foi de trem, volta de ônibus. “É a maneira que encontramos para atender essa demanda. O trem despertou saudosismo de uma época que a linha era usada para viagens. Temos atrações culturais em todos eventos e também em Schmitt, na estação ferroviária”, disse o secretário de Desenvolvimento, Jorge Souza. O passeio dura quatro horas, sendo que o trajeto de 10,5 quilômetros demora 40 minutos.

Para colocar os vagões que vão para a Prefeitura nos trilhos, a Prefeitura tentará captar recursos via Proac, do governo estadual, e também em incentivos do governo federal. O Programa de Ação Cultural (Proac) já é utilizado hoje no projeto. Valores que seriam pagos de ICMS são revertidos por empresas. Atualmente, o município busca captação de R$ 295 mil. A manutenção anual do Trem Caipira é de R$ 100 mil. (VM)

Fonte: ABIFER